domingo, 2 de maio de 2010

é só abrir os olhos por completo

Essas coisas ainda existem. Morar em uma cidade pequena, no interior é sempre feliz. Hoje de manhã despertei com um fio dourado de luz iluminando meu rosto, ainda um pouco lesada por conta do sono, levantei. Dei uma espreguiçada, abri a janela por inteira, e fui para minha digna refeição matinal. depois me recostei a varanda e fiquei admirando o céu azul límpido, as nuvens em formatos diferentes e textura de algodão, o sol reinando seus raios dourados, e os pássaros voando por todos os lados. Fiquei imaginando milhares de coisas em uma manhã de domingo, que nem me cabiam. Eram muitas coisas. E eu realmente saí de órbita... fui parar em um lugar que eu realmente não me encontrava naquele momento, um lugar longe. Fora daqui. Fora de mim. Fora da Terra. Com o tempo, fui escutando uma espécie de apito, lá no fundo, bem distante, e esse apito só ia aumentando. Chegava mais perto. E eu fui voltando para a realidade ali encontrada, e tentando decifrar o que era aquilo. Cada vez mais, ele chegava, e aumentava. Parecia agora, o barulho de uma porta antiga de carvalho, rangendo infindavelmente. aquele barulho entrou na minha cabeça e não saía mais. cada vez mais perto. Quando dei por mim, já estava na frente da minha casa. Fui correndo até a porta ver o que era. Encontrei um senhor de chapéu de palha, olhos verdes meio cansados, uma camisa velha e uma calça suja de terra, um cigarro de palha na boca e uma vara na mão de mais ou menos 1,75 metros, ele olhou bem no fundo dos meus olhos e fez um sinal com a cabeça, para me cumprimentar. Eu fiz o mesmo sinal, olhando nos olhos dele. E quando olhei para o que via atrás dele. haviam vários bois, uns paralelos aos outros da mesma cor e chifres imensos. Eles estavam levando uma espécie de carreta feita de madeira, tal qual era o barulho que eu escutara. e que ali, tão perto, se encontrava ensurdecedor. Nessa carreta haviam 7 crianças, todas de olhos extremamente brilhantes, sentadas, balançando as pernas, rindo de orelha a orelha. Pude facilmente perceber que aquilo jamais seria igual a qualquer coisa que elas poderiam fazer na vida, era a melhor coisa para elas. estavam realmente felizes. Eu dei um sorriso à elas, e fiquei olhando aquele “carro de bois” ir embora, até não poder enxergar mais, e só conseguir escutar aquele barulho. Foi a coisa mais linda que eu já vi, a humildade daquelas pessoas, o olhar sincero daquele senhor, a cumplicidade entre eles, os animais, a felicidade estampada nos risos. Por mais que seja difícil encontrar por aí. Essas coisas existem ainda, e eu estou feliz por ser testemunha disso.

2 comentários:

  1. ótimo instantâneo deste momento impar.

    quem viveu a experiência de andar num carro de boi, jamais a esquece. eu não vivi, mas minha mãe sempre relembra suas caronas em um. desde a casa de seus pais, alí no inicio do Xororó, hoje bar do Euder até a ponte sobre o ribeirão Santo Antônio. amigos e irmãos participavam desta "festa".

    quem sabe uma garotinha pobre, filha de sapateiro e de costureira, sonhando acordada, observando as núvens quando ao longe ouvia um apito e corria para a rua na intenção de viver momentos incríveis de felicidade num carro puxado por bois?

    a história se repete...graças a Deus.

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  2. É, apenas, a reconquista do Ser Rural...
    Do Bem que, antigamente, a vida simples doava.
    Retome-a.

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