sábado, 11 de dezembro de 2010

ela não tem nenhum desejo de transformar o passado em poesia, ela quer dar uma volta ao passado com seu corpo perdido. ela não é obrigada por um desejo de beleza, ela é obrigada por um desejo de vida.
o amor grande mais torna-se inútil, porque nem mesmo a pessoa amada é capaz de suportar tanto. fico perplexa ao perceber que mesmo no amor é preciso bom senso e medida. a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.
clarice lispector
freqüentemente, os melhores momentos na vida são quando a gente não está fazendo nada, só meditando, ruminando. quer dizer, a gente pensa que todo mundo é sem sentido, aí vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência de falta de sentido já é quase um pouco de sentido. sabe como é? um otimismo pessimista.
eu não sentia nada. só uma transformação pesável.
muita coisa importante falta nome.
joão guimarães rosa
i don’t know why people are so keen to put the details of their private life in public; they forget that invisibility is a superpower.
nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.
josé saramago

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010



O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva a hipocrisia.

Noel Rosa
"sou tantas outras. não sei como ainda caibo em mim. se sou curva, se sou íngreme, se sou chão batido - já nem sei mais. me sinto um tanto mais. com tudo isso, sobrou a fúria com destino, a poesia&imensidão, o perder-se sem temer se encontrar num beco sem saída. pois já não há saídas: as entradas se dão em outras entradas. estimo essa dança cotidiana: pequenices, dores, revoltas, dar-a-volta, ciranda de arte. todos os vocês se confundem com os eus e eu me sou puramente de plenitudes efêmeras. fêmeas. fêmures. estou cansada de ficar cansada de ficar cansada. de brincar com as palavras e elas não significarem tudo. é isso: não me significo tudo. sempre algo me escapa e eu decici deixar-lhes escapar. se retornam, já não sei. eu não me sou: sou muitas de mim. me fragmento, me recorto, me estilhaço no ar. amar já não cabe em mim, transbordar-se. dou gargalhadas: é disso que se é. é isso que se quer: retornar a si não sabendo mais quem sou. cirandar."